terça-feira, 12 de outubro de 2010

Transformação...


Hoje fui assistir o filme "Comer, Rezar, Amar" baseado no livro de mesmo nome de uma escritora americana, personagem central da história...bom, digo isto para o caso de alguém no mundo ainda não ter ouvido falar nele, visto que foi um dos "Best Sellers" do ano passado ou retrasado, não lembro...eu não cheguei a ler o livro, por simples esquecimento, pois tinha amigas que tinham e me emprestariam, mas fui deixando para outra hora, que ainda não chegou.
Como já faziam uns 5 meses que não ia no cinema, e vivia combinando com uma amiga aqui em Aveiro de ir algum dia, resolvi ir ver este. Resumidamente, foi ótimo. Não só o filme, mas o sentimento que ele me proporcionou...(talvez sempre seja isto que faz a gente gostar ou não de um filme, não tinha pensado nisto ainda...). Eu me identifiquei muito com a personagem/autora. Mas fiquei super orgulhosa de mim de perceber que com muito menos sofrimento e muito menos comprometimento (no sentido de não ter sido necessário me  "desfazer" de tudo como ela), eu consegui fazer a mesma "viagem" em busca de mim mesma, do meu equilíbrio, da minha verdade e da minha "palavra", como ela usa no livro...ainda não finalizei meu ciclo, repetidamente me vejo repensando e revendo minhas escolhas, mas já atingi o que acredito ser o mais importante nesta busca: eu SEI o que EU QUERO da minha vida. Tenho muito sólido no meu coração e na minha mente quem EU SOU, o que EU GOSTO, o que EU NÃO GOSTO, o que EU BUSCO, o que EU PERMITO e o que NÃO PERMITO...eu conheço a "minha palavra" (sempre soube, mas achava que podia estar exagerando...hoje tenho certeza): TRANSFORMAÇÃO! 
Pensei muito se escrevia isto ou não, se era tão sincera aqui ou não...mas isto foi uma das transformações que tenho feito em mim mesma...deixar de me preocupar com o que os outros pensam de mim! Sempre, em toda a minha vida, estive preocupada em ser aceita, em ser aprovada, em ser admirada pelos outros...a única coisa que consegui com isto foi reprimir muito os meus sentimentos e deixar de falar ou mostrar o que eu sinto de verdade para muita gente, principalmente as que mais amo e mais me importo...porquê? Medo de decepcionar...na minha mente, após algum tempo de terapia, eu consegui achar uma boa explicação para isto...não sei se é de todo este o motivo, pode ser apenas um detalhe, mas acho bastante relevante...o meu pai morreu quando eu tinha 6 anos...na época, minha mãe tinha 28 anos (!) e eu tinha mais dois irmãos menores (um de 4 e o outro com 2 anos...). Obviamente foi um fato trágico e determinante na minha vida, e passei décadas tentando trabalhar isto dentro de mim, pois por mais de 20 anos eu simplesmente não aceitava a morte do meu pai ("esta" transformação é uma outra história...um dia escrevo sobre ela...). Mas o mais incrível, e que consegui finalmente perceber há alguns anos atrás, durante uma terapia, é que a minha única recordação "viva" do dia do velório e enterro do meu pai foi um momento em que uma tia minha me pegou no colo e passeou comigo pelo velório e pelo cemitério, conversando...e ela me disse uma coisa que eu nunca tinha percebido a "gravidade" e a "seriedade" que teve para o resto da minha vida...ela disse que eu "era a irmã mais velha e a única mulher, e que portanto, eu tinha que ajudar a minha mãe a criar os meus irmãos e não dar trabalho para ela, que eu tinha que ser uma boa filha porque a minha mãe já tinha sofrido demais" !!!!! Nossa! Cada vez que me lembro disto agora me arrepio! Consegue perceber a dimensão disto para uma criança de 6 anos? Aquilo determinou as minhas decisões ao longo da minha vida! E, sinceramente? Não acho que fez a minha mãe sofrer menos...acho que o único impacto real foi em mim, que sempre me cobrei demais e sempre sofri quieta no meu canto para não magoar a minha mãe...talvez até tenha tido um impacto tão negativo nos meus irmãos quanto em mim, coitados, pois virei uma chata, tentando ser uma segunda mãe para eles (acho que na minha cabeça eu estava ajudando a minha mãe com a tarefa dela...), mas para eles era mais uma controlando e criticando...acho que por isto também me tornei tão crítica! Nossa, eu admito, sou uma "mala"! (como aliás, é meu apelido por parte do meu irmão caçula...). Eu sou a pessoa mais crítica do mundo! Primeiro comigo...nunca estou suficientemente bem para mim...e depois, os outros...estou sempre ressaltando os defeitos dos outros (nos meus pensamentos...a maioria das vezes não falo a respeito, mas este é um comportamento que decidi ter, pois ainda não estou convencida se existe algum benefício em ficar apontando os defeitos...poucas vezes tentei em questões "menos sérias" e só consegui provocar raiva e nenhuma mudança positiva...ainda preciso aprender o que fazer com estas críticas...)...não que eu não enxergue as qualidades dos outros! Pelo contrário!...enxergo, admiro, respeito, me emociono...mas sempre coloco um "mas" no fim do raciocínio...fico admirada sempre que me lembro da minha tia me falando aquilo no enterro e de quanto isto foi marcante para mim. Tenho absoluta certeza de que ela jamais falaria aquilo se pudesse imaginar o efeito disto na minha vida! Ela falou com a melhor das intenções, acho até mesmo que mais para tentar me distrair naquele momento e inventar um assunto comigo, me dando uma responsabilidade para eu me sentir importante do que qualquer outra coisa! Mas por esta experiência percebo a importância de cada palavra e sentimento que passamos para as crianças hoje em dia...provavelmente a minha tia nem lembra que falou aquilo para mim 28 anos atrás! Mas para aquela criança de 6 anos, sofrendo a morte do pai, sofrendo por ver o sofrimento da mãe e de todas as pessoas que ela amava, o estabelecimento de uma responsabilidade daquelas foi extremamente forte, e talvez realmente tenha me feito parar de chorar naquele dia...hoje penso muito bem no que falo para os meus priminhos pequenos e sobrinhos (mesmo estes sendo ainda bebês! vai saber o que eles compreendem!?)...a percepção disto tudo também foi um momento crítico de transformação na minha vida...percebi isto em um momento de estagnação de um namoro, decepções com várias amizades, problemas no pseudo emprego que tinha e ainda uma briga/separação na minha família...sem entrar em detalhes sobre tudo que percebi de cada um destes episódios, dei uma volta por cima derrubando tudo que era falsamente sólido...terminei o namoro, pedi demissão, me afastei dos "amigos" e "dei um tempo" com a família...parece um drama! Mas não foi...foi a minha grande transformação!...nunca antes eu havia me importado tanto comigo! Aquela briga de família foi um soco no estômago para me fazer crescer a força, pois percebi que nada, NADA na vida é totalmente sólido e de confiança! Sempre achei que minha família fosse! Achei que era perfeita, dentro da possibilidade de perfeição de uma família (considerando discussões e pequenas divergências totalmente normais, e quase caricaturais...). Mas vi que não era...nem perfeita, nem estável, nem segura...achei que aquele namoro seria o último (pois achei que iria casar finalmente...)...achava que trabalhava no lugar dos meus sonhos com meus melhores amigos...até cair na real e ver que nem tudo é o que parece...tá, admito que precisei tomar anti-depressivos por 4 meses (apenas para perceber que o que tinha não era depressão, mas tristeza...)...e que sofri muito (nenhuma transformação é fácil, eu nunca disse que era...)...mas foi um dos momentos mais importantes da minha vida! Desde então, eu descobri uma coisa sobre mim que sempre soube mas que não tinha ainda escancarado para os outros...eu JAMAIS vou me submeter à falsidade e à falta de caráter! Eu sou capaz de abrir mão dos meus sonhos, de grandes conquistas que já tenha conseguido e das pessoas que amo se precisar trabalhar, conviver ou compactuar com gente sem caráter! Simplesmente nasci sem estômago para isto! (esta característica me lembra muito meu avô Hermes e minha mãe...e tenho orgulho deles por isto!). E a partir daquele momento, isto se tornou uma bandeira para mim...e os fatos decorrentes me mostraram que muitas vezes na minha vida vou chegar nesta encruzilhada de novo, pois pessoas sem caráter sempre vão entrar no meu caminho, e vou ter que decidir como seguir em frente...a partir daí, já abandonei diversos sonhos pelo mesmo motivo...mas não me arrependo de nada, pois sempre encontrei uma porta aberta para algo muito mais especial para mim! Nunca foi fácil, sempre é dolorido, principalmente a decepção com as pessoas que eu confiava...mas estou aprendendo a não esperar tanto das pessoas...sempre achava que meus amigos eram especiais, até ver do que eles eram capazes...ficava sem chão, achando que nunca mais poderia confiar em ninguém...confesso que este ainda é um dos aprendizados que preciso aperfeiçoar, porque tenho uma tendência de "me encantar" pelas pessoas que tem algo em comum comigo de início, e quando vou conhecendo a pessoa e me decepcionando com algumas peculiaridades da sua personalidade, sofro além do necessário...
Pode parecer muito arrogante e convencido da minha parte, mas realmente acredito que vim ao mundo para "Transformar"...a mim e aos outros! Acredito que todas as pessoas que conviveram verdadeiramente comigo foram mexidas por mim...nem sempre da melhor forma...hoje eu penso que é justamente o meu jeito de viver tudo tão intensamente, falar muito, fazer muito, pensar muito e tomar decisões muito fortes, é que acabo por fazer as pessoas se exporem mais...é inevitável as pessoas se mostrarem de verdade quando eu entro na vida delas, porque de certa forma eu forço isto ...eu faço com que tenham que se posicionar, e portanto, mostrar sua verdadeira cara! E nem todo mundo gosta disto...principalmente as pessoas que tentam esconder seu lado ruim...isto me fez criar muitos "inimigos" ao longo da vida...é incrível, pois quanto mais penso nas pessoas que hoje me odeiam, mais me dou conta que eram pessoas que me adoravam! Acho que a decepção delas comigo, por eu desistir delas ou expor o que não gostava nelas, foi justamente o que fez elas me odiarem...enfim...isto ainda me entristece, pois nunca foi minha intenção criar atritos com as pessoas, mas o que me deixa com a consciência tranquila é que só criei atritos com pessoas que não respeitam os outros e passam por cima de quem for para conseguirem o que querem...e destas, não vou sentir falta...(aproveito para pedir desculpas à todos aqueles que magoei ao longo da minha vida, consciente ou inconscientemente, pois hoje percebo que a gente cria mágoas nas pessoas que esperavam algo diferente de nós...e nem sempre podemos ser aquilo...). Por outro lado, tenho orgulho em dizer que transformei muitas pessoas para melhor...não no sentido de terem virado pessoas melhores por minha causa, não sou tão pretensiosa, mas por terem se tornado pessoas mais felizes e menos exigentes consigo mesmas! Acredito que meu amor por pessoas que sofrem exageradamente (porque será que me atraio por gente assim?...) e minha paciência e carinho para mostrar para elas o quanto se punem sem necessidade, é que consegui algumas vitórias neste sentido...e o que fiz para isto? Nada demais...simplesmente contei a minha própria história...

2 comentários:

  1. Minha amiga querida! Este teu posto auto-análise está perfeito... Tenho certeza que tu não está nessa vida "só de passagem" e que tu sempre toca e deixa algo para as as pessoas que convivem contigo. A única parte que discordo, e quando tu fala que existem pessoas que te odeiam - isto é completamente impossível. Existem sim pessoas que não concordam, não simpatizam ou não são identificam contigo, isto é normal, considerando que tu tem um estilo muitas vezes polêmico de lidar com os fatos, mas te odiar, é muito difícil! Tu é uma pessoa 100% do bem, mesmo quando faz a coisa "torta", está sempre bem intencionada. Nunca alguma coisa ruim motiva tuas atitudes, então ódio é um sentimento incompatível contigo - a gente odeia quem faz maldade, quem age sem escrúpulos, que trapaceia... Definitivamente não é o teu caso. Torço muuuuuito por ti e espero que a tua busca por equilíbrio seja cada vez mais bem sucedida. Acredito profundamente que tu vai ser muito feliz (mais do que é) nessa vida e que o futuro te reserva boas surpresas! Beijo grande e saudade. Ju

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  2. Amada, esta declaração de amizade me fez chorar...te amo muito! O que adoro mais na nossa amizade é que a gente tem tantas diferenças mas isto é tão pequeno, porque a gente se respeita tanto e super valoriza o que a outra tem de melhor! Te adoro por isto! E sei como é difícil a gente encontrar uma amizade assim! Por isto te guardo no meu coração! Mil beijos! E saudades...

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